Estava a rever algumas coisas escritas por
mim, de quando o Nenas nasceu e deu muita vontade de partilhar com vocês o que
escrevi, na altura (novembro de 2013), sobre este tema =) Acho delicioso ler-me e reviver o que vivi tão feliz naquela altura :)
"Acabei de ler o artigo da Revista Pais &
Filhos "Um ano e ainda mama? Sim!" acerca da amamentação tardia
não ser considerada "normal", sendo muitas vezes alvo de comentários
menos agradáveis. Fala também da pobre formação durante os cursos de medicina e
enfermagem acerca do aleitamento materno, que se reflecte no dia-a-dia dos
profissionais no tratamento das suas utentes/pacientes.
Como já aqui falei, voltei ao meu trabalho. Sou médica-de-família e posso garantir-vos que se por um lado me sentia meia enferrujada em algumas áreas da saúde por ter estado tanto tempo fora, noutras me sinto melhor preparada que nunca (nomeadamente no que toca às grávidas e às crianças). Lembro-me que na minha última consulta de grávida que tive, estava a fazer o CTG e disse à minha obstetra que com toda a certeza iria ser muito melhor médica agora. Ela sorriu e concordou plenamente, que também tinha sentido isso. É que é mesmo. Há mil e uma coisas que não são aprofundadas durante o curso. E garanto-vos que não são coisas menos importantes (muito pelo contrário). Enquanto grávida e recém-mãe tive tantas dúvidas que sendo médica não sabia responder que vocês não podem imaginar. Eu também questionava tudo e mais alguma coisa, é certo, mas foi como se tivesse feito outro curso, que agora me dá ferramentas maravilhosas para ajudar as minhas utentes. E eu só trabalhei 8 dias ainda e já notei muita diferença.
Relativamente ao aleitamento materno, não posso dizer que é um "mundo à parte" porque talvez fosse forte demais, mas tem mesmo muito que se lhe diga. Como mulher (antes de ser médica e mãe), sempre quis ser mãe com o pacote completo: ficar grávida, gozar muito a barriga, amamentar, dar muito amor, muitos beijos, muito "tudo" aos meus filhos. Talvez por ter a mãe que tenho, o exemplo que tive. Amamentou a mim e à minha irmã até tarde. Como médica, não posso dizer que não absorvi lindamente os ensinamentos (ainda que teóricos) que tive dos benefícios da amamentação e assuntos relacionados com este tema (mas será que assim foi por a predisposição para isso ser tão forte?). Sei que estudei este tema sempre com grande entusiasmo e sem grande preocupação em decorar isto ou aquilo porque me parecia lógico demais e o melhor. Como mãe, acho que já deu para entender como encaro esta situação. O meu filho, que fez ontem 6 meses, ainda não meteu nada à boca que não seja medicação e o meu leite. NADA mais além disso. Temos consulta no pediatra esta semana e só aí falaremos em introduzir outros alimentos, porque aleitamento exclusivo após os 6 meses já não faz sentido. No entanto, e para se ter noção do "mundo" que é amamentar, as dúvidas ainda vão surgindo. Tive muita sorte de conhecer uma enfermeira super-querida conselheira em amamentação que me deu o curso de massagem infantil e, de vez em quando, lá lhe ligo, e ela tira-me todas as dúvidas e mais algumas. No meu emprego, também não me posso queixar: estão a colaborar em tudo para eu poder continuar a amamentar.
Claro que implica dedicação e esforço, mas compensa tanto!... Claro que antigamente não me levantava às 6:15 para trabalhar; mas hoje levanto-me a essa hora para dar tempo ainda de o amamentar e congelar um biberão de leite. Faço um intervalo a meio da manhã para tirar mais um biberão de leite; para isso, não me posso esquecer de nada: bomba, sacos de congelação/biberões, sacos térmicos. Saio a correr do emprego para vir a tempo de o amamentar. E de tarde é muito semelhante: amamento-o às 13:15, saio para trabalhar (entro às 14), faço intervalo a meio da tarde e venho para lhe dar o "jantar". Aguento acordada (nem sempre, vá...) até à meia noite para lhe dar outra vez antes de me deitar. Claro que era muito mais simples ele mamar outro biberão, passando "a função" ao pai, à avó ou à L. Eu não precisava de correr tanto e podia dormir mais, mas não quero porque sei o que o meu filho e eu ganhamos com isto.
Isto para dizer que se
até ele nascer e passar por esta experiência eu já incentivava o aleitamento
materno, agora então é que incentivo, e ainda dou dicas e esclareço dúvidas que
nunca me teriam passado pela cabeça. E isso faz-me sentir muito bem porque sei
que, no que depender de mim, os bebés que vou seguir até serem adultos serão
amamentados até ser possível!"